
Pode-se, ainda, tentar decodificar as informações trazidas por esses
raios sobre o espaço interestelar que atravessaram e os fenômenos que
testemunharam durante sua longa trajetória. O estudo dos raios X e gama
é, portanto, uma poderosa ferramenta para se investigar a natureza da
matéria e para tentar desvendar alguns dos mistérios do Universo, como,
por exemplo, o seu início.
Além do convencional
As estrelas emitem luz em todas as formas possíveis, não apenas sob a
forma de luz visível, que pode ser vista com nossos olhos ou com os
telescópios convencionais, como o Very Large Telescope, em Cerro
Paranal, no Chile, ou o Grande Telescópio das Canárias, no Observatório
del Roque de los Muchachos, em La Palma, Espanha. Segundo Xavier
Barcons, a luz de estrelas, galáxias, quasares, supernovas etc. também
podem ser vistas na forma de radiação ultravioleta, infravermelho,
ondas de rádio, raios X e raios gama — os chamados raios cósmicos. Cada
uma dessas formas de luz é proveniente de distintos fenômenos que
ocorrem em estrelas e galáxias. Por exemplo, a maior parte da luz
emitida pelo Sol é na forma de luz visível, mas as estrelas anãs emitem
a maior parte da luz na forma de luz infravermelha.
Raios X e raios gama
Ambos
constituem algumas das formas mais energéticas da luz. Graças aos raios
X os médicos podem ver os ossos do corpo humano. Já os raios gama são
os mais difíceis de produzir e de detectar. É por isso que os astrofísicos espanhóis Xavier Barcons e Ramón J. Garcia López afirmam que os raios gama são muito mais raros no Universo.
Barcons explica que, para uma estrela produzir raios X ou gama, é
preciso que ocorram fenômenos energéticos violentos em seu interior —
como, por exemplo, enormes quantidades de matéria que se deslocam com
grande velocidade, atraídas pela força gravitacional de estrelas
compactas, ou pela presença de campos magnéticos bilhões de vezes maior
do que o campo magnético da Terra. Barcons afirma que a visão desses
fenômenos, os quais considera “espetaculares”, por laboratórios na
Terra é “inconcebível”. Só poderiam ser vistos através de telescópios
de raios X ou raios gama, em órbita.
Detecção
Detecção

Contudo
os raios gama, que têm energia muito alta, de acordo com Barcons,
também podem ser detectados indiretamente a partir do solo. Isso
porque, quando passam pela atmosfera terrestre, se desintegram e emitem
um feixe de luz visível. Para captar esses raios gama foram construídos
os chamados telescópios Cherenov Atmosféricos, que fazem parte do
complexo do Observatório Roque de Los Muchacos, em La Palma, nas Ilhas
Canárias, Espanha. Há outros complexos, como o Hess, na Namíbia. López
acrescenta que a resolução de imagem de raios X e gama é também,
geralmente, mais pobre do que as imagens ópticas convencionais. É a
partir desses telescópios que os astrônomos produzem cerca de mil
publicações científicas a cada ano.
Uma nova visão
Uma nova visão
Graças
a essas novas formas de astronomia observacional, os cientistas
descobriram coisas nunca antes vistas no Universo, como, por exemplo,
os buracos negros, que atraem a matéria em torno deles, e produzem
grandes quantidades de radiação X e gama. Muitos desses buracos negros
são invisíveis aos telescópios ópticos. As observações astronômicas em
raios X e gama revelam, também, um Universo muito diferente do que é
visto na observação com telescópios ópticos convencionais.
Resultados
Resultados
Dos
resultados mais importantes descobertos pelos telescópios Magic nos
últimos anos, López destaca a localização exata de um acelerador de
partículas, em uma galáxia ativa; a detecção de um enorme disparo de
raios gama em um quasar; a descoberta da emissão intermitente de raios
gama de altíssima energia no pulsar da Nebulosa do Caranguejo; e o
primeiro indício observacional da aceleração de raios cósmicos
galáticos, nos restos de uma supernova. Com isso, López avalia que
todos esses resultados são fundamentais para entender claramente alguns
dos fenômenos energéticos mais violentos conhecidos no universo.
Já
Barcons destaca a descoberta da matéria escura, que mantém as galáxias
e os aglomerados, e a confirmação da teoria da relatividade de
Einstein, de que a luz e os raios X devem perder parte substancial da
sua energia, com o fim de escapar da força gravitacional criada,
principalmente, pelos buracos negros.
Fonte: Correio Braziliense
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