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quarta-feira, fevereiro 09, 2011

Vinho, bomba atômica e safras

Mesmo para o sommelier¹ mais premiado, as análises visual, olfativa e gustativa parecem ser insuficientes para detectar com certeza absoluta uma safra. O problema da falsificação de safras caras é cada vez mais presente: com o crescimento de apaixonados por vinho, de leilões e de colecionadores, especialmente no Extremo Oriente e na Rússia, cresce também o enriquecimento dos trapaceiros. É que os grandes vinhos são usados como forma de investimento² e as casas de leilões estão se organizando para prevenir o perigo: pelo menos 5% das garrafas mais preciosas na realidade não passam de falsas!

Para acertar uma safra que vale milhares de dólares, os sommelieres terão que levar em consideração uma conseqüência da guerra fria: o fator radioatividade! A Universidade de Adelaide, na Austrália, apresentou recentemente a analise do carbono-14, que é encontrado naturalmente na atmosfera em pequenas quantidades, devido a uma reação dos raios cósmicos com o azoto. A pesquisa usa como “linha de divisão” o período dos anos 50, quando os testes nucleares³ conduzidos no mundo incrementaram o nível de 14C – o radiocarbono – que mais tarde, depois de 1963, ano em que os testes foram banidos, começou a diminuir.

De acordo com Graham Jones, um dos autores da pesquisa, “a uva prende o carbono radioativo por meio do dióxido de carbono (CO2) presente na atmosfera e o transforma em álcool e outros compostos. Com base na quantidade de carbono-14 encontrado no vinho podemos detectar a safra”. Os pesquisadores australianos testaram seu método,que usa um espectrômetro de massas no álcool presente em 20 garrafas, de safras entre 1958 e 1997: conseguiram estabelecer suas datas reais com uma margem de erro de um ano. Em seguida começaram a verificar a possibilidade de aplicar o método a outros componentes, como os fenólicos e o ácido tartárico, para afinar ulteriormente a medição.

 Testes nucleares para testar vinhos caros; isto é, declarar guerra às fraudes. Um caso de guerra bem-vinda.

1- O melhor sommelier do mundo, segundo a Association de la Sommellerie Internationale (ASI) é o francês, naturalizado inglês, Gerard Basset. Em abril de 2010 ganhou o título entre 51 concorrentes. Cada finalista teve que superar provas de degustação às cegas e descrever em detalhes quatro vinhos diferentes e identificar oito destilados em três minutos. A próxima edição do evento será em Tóquio, em 2013.

2- Raise your glass: wine investiment and the financial crisis”, (Levante sua taça: investir em vinho e a crise financeira): esse é o nome do trabalho de dois economistas da Wine Association of Wine Economists. Entre  os outros dados: uma garrafa de Lafite Rothschild foi leiloada em 2003 por 490 dólares, depois de seis anos foi vendida por 2.586,00 dólares, rendendo ao vendedor um retorno de 70% por ano.

3- Os homens que filmavam o que acontecia quando as bombas eram detonadas formavam uma divisão secreta. Sua existência surgiu das sombras apenas quando o governo começou, 12 anos atrás, a tornar públicos seus filmes. No total, produziram 6.500 filmes  segundo autoridades federais. Dois novos documentários, “Countdown to Zero” e “Nuclear Tipping Point”, apresentam imagens de arquivo das explosões.


Fonte: Tribuna do Norte (com adaptações).

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