Nem filme de catástrofe nem tragédia familiar, um novo filme sobre a
explosão de 1986 na usina nuclear de Chernobyl analisa, em vez disso, a
razão pela qual algumas pessoas decidiram permanecer na região, mesmo
cientes de que corriam perigo mortal.
"Innocent Saturday", que faz parte da competição oficial do festival
de cinema de Berlim, acompanha o jovem funcionário do Partido Comunista
Valery Kabysh quando seus chefes, que num primeiro momento tentaram
encobrir o que tinha acontecido, o informam da extensão real da
catástrofe.
Ele corre para a cidade vizinha de Pripyat e tenta embarcar em um
trem com sua namorada, mas quando a rota de fuga é fechada ele é
rapidamente sugado de volta para a vida cotidiana, feita de casamentos,
compras, música e bebida.
Seus antigos colegas de banda precisam de um baterista e já têm
vários shows marcados, então Valery se junta a eles e eles decidem
viver a vida plenamente, por mais curta ela possa ser.
Apenas de vez em quando, quando um noivo recorda que sua noiva
aguarda um filho, é que a ameaça invisível da radiação se intromete em
dia aparentemente idílico.
"O que me fascinou foi o porquê de pessoas que sabiam da catástrofe
não fugirem da cidade", disse o diretor russo Alexander Mindadze.
"Talvez porque o perigo era invisível?"
Ele disse que, apesar de ter acontecido há 25 anos, o desastre de
Chernobyl ainda está presente na mente dos habitantes da antiga União
Soviética.
O ator Anton Shagin, que fez o papel de Valery, tinha apenas 2 anos
na época do desastre mas se recorda de que alguns de seus colegas, que
tinham estado perto do epicentro da catástrofe, tinham que aguardar
suas refeições em uma fila separada, porque tinham necessidades
alimentares diferentes.
Svetlana Smirnova-Marcinkevich, no papel da namorada, Vera, ainda
não tinha nascido em 1986 mas conhece muitas pessoas afetadas pelo pior
acidente nuclear da história.
Apesar de mostrar o fato de as autoridades não terem avisado a
população sobre o perigo da radiação - o produtor Alexander Rodniansky
disse que isso foi "o drama do silêncio, o drama da grande mentira" -,
Mindadze disse que seu filme não é político.
E, embora a presença do perigo tenha intensificado a consciência que
todos tinham da vida, ele acrescentou que seu filme diz respeito a algo
peculiar dos habitantes do bloco soviético: o fatalismo.
Fonte: ESTADÃO.COM.BR
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