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terça-feira, outubro 19, 2010

Cuidado para não fazer da sua pós um problema

Errar a mão pode custar perdas significativas de tempo e dinheiro

Já imaginou comprometer cerca de R$ 15 mil de suas economias e gastar mais de 400 horas num curso de especialização? Não há como negar que, apesar de ser a escolha de diversos profissionais em busca de ascensão no mercado de trabalho, decidir sobre uma pós-graduação é um processo delicado, principalmente porque envolve muitos recursos e consome muita dedicação. Investimentos que se mal aplicados não poderão ser resgatados. A dúvida que fica é: como fazer uma boa escolha para minimizar os riscos de perda de tempo e dinheiro? Vale a pena todo esse esforço só para ter um diploma lato sensu na gaveta e ou um item a mais no currículo?
A questão além de deixar muitos profissionais ressabiados, também causa polêmica entre especialistas do setor acadêmico e do mundo dos negócios. De um lado aqueles que defendem a idéia de que qualquer conhecimento é válido. Mas do outro, há os que acreditam que fazer um curso de pós-graduação lato sensu só tem sentido quando agrega valor à carreira, caso contrário, esse curso pode se tornar inútil.

Para o diretor de educação continuada da PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), Paulo Laporte, qualquer pós-graduação é capaz de valorizar um profissional, basta que ele esteja disposto a aprender e a aproveitar a oportunidade da melhor forma. "A importância do curso não está apenas em seu conteúdo, mas também na vivência com os professores, os colegas de turma e com o ambiente acadêmico. Se bem explorados, tem muito a contribuir para a carreira", opina Laporte.

A pró-reitora de pós-graduação e pesquisa da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), Angela Uller, concorda parcialmente com o ponto de vista de Laporte. Segundo ela, no entanto, é preciso separar vida pessoal da profissional. "Quando se fala na formação do indivíduo, não há pós-graduação inútil. Todas elas, direta ou indiretamente, geram conhecimentos. Agora, quando o assunto é carreira, a coisa muda de figura. Não é qualquer curso que vai ser aceito pelo mercado de trabalho e vai significar um diferencial no currículo", explica ela.

Quem ilustra esse cenário descrito por Angela é o gerente da Page Personnel, filial do grupo Michael Page International - que faz recrutamento especializado -, Igor Schultz. De acordo com ele, de nada adiantaria um profissional da área de administração fazer, por exemplo, uma pós em nutrição. "Qual será o diferencial que esse administrador especialista na área de saúde alimentar pode trazer caso não atue e nem pense em atuar numa empresa do setor?", questiona Schultz. Segundo ele, esse exemplo demonstra que, a depender da escolha, o diploma pode se tornar um peso morto. "Não será nenhum diferencial no mercado de trabalho. O selecionador irá simplesmente ignorar essa formação. E aí tempo e dinheiro terão sido desperdiçados", avalia ele.

Isso significa então que todos aqueles que decidiram fazer pós-graduação e descobriram durante as aulas que a opção foi equivocada não podem tirar proveito algum do curso? Talvez não seja bem assim. A visão da gerente de recrutamento e seleção da Gelre, empresa de consultoria na área de Recursos Humanos, Gerusa Mengarda, é bem mais otimista do que a de Schultz. Para ela, mesmo quando a escolha não está relacionada à área de atuação, a pós-graduação é um caminho para que o profissional possa ampliar sua rede de relacionamentos e trocar informações. "Elementos fundamentais para o desenvolvimento de uma carreira", resume.

Além disso, Gerusa relaciona a realização da especialização ao interesse de se manter atualizado. "O curso pode não agregar muito valor para o setor que se pretende concorrer, mas geralmente chama a atenção do gestor que analisa o currículo. Isso porque demonstra que o candidato é dinâmico e está sempre em busca de novas informações. São profissionais com esse perfil que o mercado procura", acredita ela.

No entanto, a pró-reitora de pós-graduação e pesquisa da UFRJ não concorda com a opinião de Gerusa. Para Angela, diante de um cenário como esse, o gestor pode encarar a pós-graduação como empecilho e o curso passaria a ser um ponto negativo para o candidato. "O selecionador, ao invés de enxergar o candidato como dinâmico, pode ter a leitura de um profissional sem foco. E garanto que essa não é uma característica nada valorizada no mundo dos negócios", rebate Angela.

Como escolher?

Apesar das divergências de opiniões, as fontes ouvidas pelo Universia são unânimes quando o assunto é transformar a experiência da pós-graduação num mecanismo para a conquista de uma nova oportunidade no mercado de trabalho ou mesmo uma promoção. Para eles, a especialização, quando bem escolhida, pode ser o caminho para a ascensão no mundo dos negócios. No entanto, é preciso saber escolher, tanto para poder colher os resultados esperados, quanto para minimizar os riscos de desperdício de tempo e dinheiro.

O primeiro passo, segundo Schult, é fazer um planejamento de carreira. "Analise suas expectativas profissionais e responda: `aonde quero chegar nos próximos dez anos?´". Com essa resposta e com o objetivo profissional traçado, o gerente da Page Personnel orienta que as pessoas procurem cursos alinhados a essas metas. "Nesse momento, é preciso fazer uma pesquisa tanto no meio acadêmico como no empresarial. Veja as opções que as instituições de ensino oferecem e faça um estudo de mercado para verificar o que ele espera do profissional que você pretende se tornar", sugere Schult.

Com uma lista de especializações na mão, é hora de escolher entre as opções. Angela acredita que o segredo de uma boa escolha está na cautela. "Nada de ter pressa. É preciso refletir bem e ter maturidade para tomar essa decisão. Isso, no entanto, não significa deixar essa tarefa sempre para depois", alerta ela. Na opinião de Laporte, o ideal é seguir a linha de um processo seletivo eliminatório. "Os critérios que devem ser levados em consideração são: a idoneidade da instituição de ensino, a formação do corpo docente e o conteúdo programático do curso", afirma ele. O diretor de educação continuada da PUCPR acrescenta que, nessa fase, é fundamental uma conversa com o coordenador do curso ou com os próprios professores. "O bate-papo será fundamental para saber se a especialização está alinhada às suas expectativas".

Se mesmo depois de todos esses cuidados, você perceber que o curso não era o que esperava, Laporte aconselha que se faça uma nova avaliação. "O ideal é ter essa percepção logo nos primeiros meses. Se o curso não irá agregar nada em sua carreira, pare. Agora, se a percepção foi tardia, recomendo que o aluno vá até o fim", diz. Estudar a possibilidade de pedir a transferência para um outro curso da instituição, caso isso seja possível e viável, pode ser uma alternativa. Na opinião de Gerusa, essa estratégia pode funcionar. "Assim será possível aproveitar os conhecimentos até então obtidos, além de minimizar os desperdícios de tempo e dinheiro", declara ela. 



Fonte: UNIVERSIA-BRASIL