Busca

quinta-feira, outubro 21, 2010

Veja o que o mercado passa a exigir depois da formatura

Atitudes e falhas que poderiam ser relevadas ganham maior relevância

Ao terminar a universidade o recém-formado pode ter uma certeza: vai ser muito mais exigido na hora de arrumar um emprego do quando concorreu a um estágio. O ingresso no mercado de trabalho, além de mais competitivo, se torna ainda mais rigoroso. Para conquistar a primeira oportunidade profissional na área de formação, os padrões adotados aos tradicionais programas de estágio devem ser deixados para trás. Conhecimentos, competências e habilidades que antes eram consideradas diferenciais passam a ser requisitos básicos. Atitudes e falhas que poderiam ser relevadas ganham maior repercussão e podem colocar em xeque a aprovação no processo seletivo.

A mudança na exigência, segundo Janaína Ferreira Alves, coordenadora do curso de pós-graduação em Gestão de Negócios da Faculdade IBMEC-RJ, é natural e compatível às atividades e responsabilidades das novas funções. "Enquanto o estagiário não tem alto nível de conhecimento técnico e nem sempre domina totalmente uma língua estrangeira, o perfil do profissional é mais complexo", compara Janaína. De acordo com ela, o mercado espera que o candidato graduado tenha conhecimento técnico mais consolidado, melhores competências comportamentais, experiências profissionais anteriores, bem como tenha cursado ou curse uma pós-graduação e fale pelo menos dois idiomas estrangeiros.

Janaina, no entanto, reconhece a existência de processos seletivos diferenciados para cada tipo de profissional, a partir das vagas oferecidas e dos perfis estipulados para cada contratação. Ainda sim, Dália Derner, professora de Gestão Estratégica de Pessoas da Universidade Anhembi Morumbi, afirma a preferência das empresas por candidatos que expressem autonomia e tomem decisões de acordo com o espaço que lhes forem dados. Para ela, essa é a grande diferença em relação à contratação de um estagiário. "A organização espera que o profissional traga essas questões de autonomia e liderança de experiências anteriores", afirma ela.

Experiência profissional que não se limita aos empregos registrados em carteira. As oportunidades de estágios também são reconhecidas. É o que garante Rafael Chiuzi, professor de Psicologia Organizacional e Gestão de Recursos Humanos da Universidade Metodista. Mas para ele, a comprovação dessas vivências não pode se limitar ao discurso verbal. Ele enfatiza a necessidade de mostrar ao avaliador materiais palpáveis que expressem suas produções e conquistas profissionais. "Além de apresentar o currículo e a carteira de trabalho, é possível entregar carta de referência do antigo emprego com a descrição de suas funções e qualidades", sugere ele. Segundo ele, em carreiras mais práticas - como design, jornalismo, publicidade, arquitetura ou engenharia - é recomendada ainda a apresentação dos trabalhos produzidos nos antigos empregos.

Para qualificar o nível das experiências, Chiuzi afirma que os recrutadores, em geral, apresentam situações adversas e solicitam que os candidatos apresentem soluções adotadas em empregos anteriores. "Na seleção de um estagiário, pede-se que os estudantes criem saídas aos problemas apresentados. Mas quando se trata do processo seletivo de funcionários, as competências dos profissionais são quantificadas a partir de sua própria trajetória no mercado de trabalho", diferencia ele, que acrescenta a relevância de conhecimentos culturais. "E quanto mais experiências profissionais se tem, maior será o diferencial para a conquista da tão almejada vaga", acrescenta o professor da Universidade Metodista.

Outro aspecto cobrado nas seleções de estagiários, mas mais profundamente avaliado para a escolha de profissionais formados é o foco dos candidatos. De acordo com Dália, todos - independente do nível de formação - devem demonstrar saber em qual área querem trabalhar, bem como o que desejam adquirir a partir do crescimento profissional. Para conseguir vencer esse desafio, Olavo Henrique Furtado, coordenador de pós-graduação da Trevisan Escola de Negócios, sugere que os candidatos conheçam bem a empresa para a qual pretendem concorrer à vaga. "Saiba o que a organização oferece ao mercado, fique por dentro do seu ramo de atividade e identifique quais os benefícios que pode proporcionar a você", recomenda ele.

Diferenças estruturais

As diferenças entre a avaliação que é feita na contratação de um estagiário e de profissional não se restringem ao nível de cobrança. Incluem também as estruturas e as características do próprio processo seletivo. Segundo Dália, para o nível profissional, algumas etapas da seleção não são necessárias, tais como provas de conhecimentos gerais e dinâmicas de grupo. "Claro que isso pode variar de empresa para empresa, mas normalmente as organizações buscam profissionais com um pouco mais de urgência para ocupar cargos importantes e a avaliação é feita, principalmente, em cima das experiências e cargos anteriores", explica Dália.

Mesmo sem acreditar na existência de manuais de regras básicas para se dar bem no processo de seleção, Furtado dá algumas dicas aos candidatos interessados em não fazer feio na hora da entrevista. "É muito importante que o profissional mostre, além de suas experiências, uma postura durante sua apresentação", destaca o coordenador da Trevisan. Segundo ele, é preciso demonstrar humildade e, ao mesmo tempo, saber se valorizar. Ter autoestima também é bastante relevante. "Apresentar um currículo não é apontar um monte de cursos e qualificações, é mostrar um projeto de vida, sobre o que ele já fez ou busca conquistar para a carreira", completa ele.

O cuidado de um profissional deve ser redobrado. Isso porque, de acordo com Chiuzi, aspectos que são toleráveis na seleção de estagiários se tornam inaceitáveis e passíveis de desclassificação quando o processo seletivo é destinado a candidatos de nível superior completo. "Para o estagiário sempre existe uma amenização no modo como ele fala e no jeito que ele se veste. Isso porque é jovem e vive num contexto diferente dentro da faculdade. Para o profissional as coisas são diferentes, pois quanto melhor for a aparência e a sua postura diante da entrevista melhores são as chances de contratação", exemplifica o profissional da Universidade Metodista.

A não contribuição com a equipe dentro de uma dinâmica de grupo ou a ausência de pró-atividade durante a entrevista são atitudes, na visão de Janaína, intoleráveis num candidato à vaga de nível superior. Em caso de organizações mais conservadoras, ela acredita que a cobrança por essa participação é ainda mais forte. "Além disso, se ele disser ter feito alguma coisa que na realidade não fez, a falta é mais grave ainda", enfatiza ela. Para a professora, falar a verdade é importante sempre. "Não deixe transparecer nada que não seja", orienta Janaína. Confira no quadro abaixo a comparação dos requisitos que são observados quando da contratação de um estagiário e durante o processo de escolha dos profissionais:  


PRÉ-REQUISITOS DA SELEÇÃO
Estagiário Profissional
- Ensino Superior (cursando) - Ensino Superior Completo
- Potencial de aprendizado - Pós-graduação (cursando ou concluída)
- Conhecimentos de informática - Experiência Profissional
- Conhecimentos em um idioma estrangeiro - Referências Profisisonais

- Conhecimentos de informática

- Conhecimentos em dois idiomas estrangeiros

- Bagagem cultural

- Autonomia

- Capacidade para tomada de decisões

Saiba como superar longos períodos sem emprego

Tempo é agravante, mas forma de lidar com a situação é reconhecida

O administrador André Luiz de Santi Barbosa de Almeida, 29 anos, é dos 1,7 milhão de brasileiros que, segundo levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), estão desempregados. Para ele, a busca por uma nova oportunidade no mercado de trabalho já dura um ano e seis meses. Embora a esperança se renove cada vez que o telefone toca ou a cada nova entrevista de emprego, os diversos "nãos" recebidos ao longo desse período, a baixa receptividade dos empregadores e a pressão social intensificam o desanimo e o sentimento de fracasso profissional e pessoal. Além de tudo isso, esse tempo todo parado já começa a chamar a atenção excessivamente no currículo de Almeida.

"No começo, o número de entrevistas era bem maior. Hoje, os poucos empregadores que me chamam para uma conversa me questionam o tempo em que estou parado", conta Almeida. O administrador diz que alguns chegam a pensar que o tempo encostado é fruto de sua própria vontade. "Desejo de trabalhar é que não me falta. Falta, no entanto, alguém que me dê uma oportunidade", destaca Almeida, que admite ter arriscado, inclusive, buscar alternativas em vagas inferiores. "Nesses casos, a desculpa pela não contratação, geralmente, é a alta qualificação", declara ele.

Ainda que a postura do mercado de trabalho pareça ser cruel, Simone Dias, professora de Ciências Administrativas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), explica que os profissionais que ficam muito tempo desempregados não são teoricamente competitivos, nem mesmo facilmente empregáveis. "Em casos de candidatos igualmente capacitados, geralmente são priorizados aqueles que estão mais próximos à realidade do mercado de trabalho", explica Simone. O fator tempo, na opinião dela, já começa a se tornar agravante a partir do terceiro mês. "Portanto, a procura por uma nova oportunidade deve começar no primeiro dia após a saída do antigo emprego. Nada de se dar um mês de férias, tampouco de esperar o vencimento do seguro desemprego", recomenda ela.

Além do preconceito com relação ao tempo parado, há ainda outros fatores que também pesam na avaliação dos recrutadores. É o que garante Sueli Milare, coordenadora da especialização em Desenvolvimento do Potencial nas Organizações da PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas) e diretora geral KorumCoaching. "Hoje particularmente a situação econômica nacional e internacional é levada em consideração pelas empresas. Isso porque elas entendem que em momentos de crise as dificuldades de se encontrar uma nova vaga são maiores. Mas quando o mercado está aquecido fica mais difícil justificar esse tempo desempregado", explica Sueli, que acredita que as desvantagens na empregabilidade começam a aparecer a partir do sexto mês parado.

Muito mais do que a avaliação de fatores externos, Sérgio Piza, responsável pela área de recursos humanos da Claro, ressalta o peso da análise do comportamento do profissional durante o desemprego. Segundo ele, a experiência da transição entre empregos pode ser importante e enriquecedora. "Se estruturado com eficiência, contribui para a qualificação pessoal do profissional a partir do aprendizado com as incertezas e com o controle emocional", garante ele, que assegura a valorização desses aspectos na contratação. Ou seja, se o profissional consegue lidar bem com a situação, isso passa a ser visto como uma qualidade a mais.

Estabelecer o equilíbrio emocional, na opinião de Sueli, que também é psicóloga, é um dos maiores desafios para um profissional que há tempos está afastado do mercado de trabalho. Segundo ela, é comum a perda da autoestima, o sentimento de inferioridade e a descrença no próprio potencial. Casos de depressão também são frequentes. Mas, ao invés de alimentar todas essas sensações, a professora da PUC-Campinas aconselha que as transformem em energia para impulsionar o processo de recolocação. "Nesse momento, o apoio e a compreensão da família e dos amigos são essenciais", alerta ela.

Além de orientar que os profissionais continuem levantando cedo, Sueli recomenda a abolição do uso do pijama durante o dia. "A tendência é não ter animo para fazer nada. Por isso, tome banho cedo e saia de casa nem que seja para ir à banca de jornal", sugere ela, que acrescenta a importância da permanência do convívio com outros profissionais. "Coloque os contatos comerciais em dia, continue a frequentar os mesmos ciclos sociais e tente minimizar as mudanças na rotina. Assim, o choque da mudança será menor", afirma a psicóloga.

De acordo com Piza, o grande erro é a falta de estruturação de um cronograma de atividades. "Crie uma agenda produtiva e sadia, com a reserva de horário para leituras, atividades culturais (teatro e cinema), cursos extracurriculares, para acompanhar e-mail e restabelecer a rede de relacionamento. Determine com quantas pessoas falará por dia, quantos currículos enviará e em quantos eventos participará por mês", sugere o recrutador. "Não é porque você não está trabalhando, que não vai trabalhar", enfatiza ele.

Turbine seu currículo

Com o lado emocional estruturado, é hora de investir na capacitação profissional. "Se o candidato não estudar, perde ainda mais a vantagem competitiva e o conhecimento do mercado, além de minimizar ainda mais as possibilidades de reingresso", aponta Simone. A professora da UFPE sugere que os profissionais desempregados usem o tempo disponível a seu favor para aumentar seu poder competitivo. Segundo ela, muitos dos brasileiros que reclamam da falta de oportunidade, são desqualificados.

Para evitar esse tipo de problema, bem como o desperdício de esforço na procura por oportunidades erradas, Piza aconselha a realização de autoanálises. "Não quer dizer que tenha que desistir dos sonhos. Mas sim, que identifique o que realmente quer, quais são as suas competências, o que o mercado exige para que alcance esses patamares e o que é preciso fazer para adequar-se a essas exigências", afirma o diretor da Claro. Segundo ele, muitas personalidades alcançaram suas maiores conquistas após períodos de transições.

Foi a partir desta avaliação que a administradora Adriana de Oliveira Loverbeck, 27 anos, conseguiu superar os 14 meses de desemprego. Ao pedir demissão de seu antigo trabalho, tinha plena convicção de ter todas as competências necessárias para a conquista de uma nova vaga. As primeiras entrevistas, no entanto, mostraram a ela o contrário. "Só o Ensino Superior não era o suficiente. Além da cobrança pelo conhecimento de um segundo idioma, sentia a necessidade de incrementar os meus conhecimentos técnicos em cursos extracurriculares", diz Adriana. E, ao invés, de contestar a atitude dos recrutadores, ela decidiu aplicar o dinheiro da rescisão do antigo contrato em cursos. "Investimento que teve retorno. Consegui um emprego numa empresa do setor de fabricação de produtos para pesca", comemora.

Ainda que nem todo o desempregado tenha dinheiro para investir em cursos, Simone cita a existência de diversas atividades gratuitas. "Há cursos gratuitos oferecidos tanto por universidades públicas, entidades de classe ou organizações não governamentais. Além disso, há diversas opções de simpósio, palestras, congressos e feiras que também contribuem com o desenvolvimento profissional", cita a professora da UFPE.

A tecnologia tem contribuído inclusive para que a atualização seja iniciada dentro da própria casa. "É possível manter-se atualizado com a TV, o rádio, o jornal, a revista e a Internet. Não adianta, no entanto, gastar o seu tempo livre assistindo desenho", aponta Sueli. De acordo com ela, a manutenção não se restringe a atualização. É preciso ainda manter as relações profissionais. Simone partilha com a professora da UFPE e aponta a rede de contatos como a segunda responsável pelo surgimento de oportunidades. "A primeira ainda é o currículo",acredita ela.

Piza sugere que os profissionais não tenham vergonha de recorrer tanto aos antigos amigos como aos colegas mais recentes. "Mesmo aqueles que não estão inseridos nas mesmas áreas que você. Até porque ele pode indicar outros contatos. Mande um e-mail, faça uma ligação ou agende um encontro", diz o recrutador da Claro. "Essa transição é difícil, mas se superada é um bom sinal", enfatiza. 


Fonte: UNIVERSIA-BRASIL (cpm adaptações).