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quinta-feira, outubro 14, 2010

Estágio ruim não significa erro na escolha do curso

É necessário entender os problemas na chegada ao mercado de trabalho

A falta de informações prévias sobre a carreira escolhida na hora de prestar o vestibular, a pouca vocação prática ou o azar de estar numa empresa ruim - ou num caminho profissional inadequado às ambições - podem levar um estudante talentoso e que aprecia o curso a não gostar do estágio. Consequentemente, é natural que questionamentos sobre a escolha da própria carreira surjam. Porém, antes de radicalizar, é preciso avaliar exatamente o que está errado, o emprego ou o curso.

O professor Bertoldo Schneider Júnior, coordenador do curso de eletrônica da UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná), afirma que não é necessário tomar atitudes extremas, como abandonar o curso. Para ele, toda profissão tem vários caminhos possíveis. "Pode-se trabalhar como empregado, empreender, ir para a área acadêmica e também pesquisar dentro das empresas. É possível ainda testar todas essas áreas na universidade", acredita ele. No entanto, o professor Alexandre Luque, do curso de Fisioterapia do Centro Universitário São Camilo, faz uma ressalva para alunos dos primeiros anos da faculdade. Segundo ele, os cursos de graduação não conseguem aproximar os alunos da prática de mercado.

Quem acha que esse tipo de situação, em que o estudante até gosta do curso que faz, mas se frustra ao começar a trabalhar na área, é rara, engana-se. De acordo com a professora Miriam Rêgo de Castro Leão, coordenadora do curso de enfermagem da PUC-MG (Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais), a situação descrita é bastante normal e até esperada. Isso porque a formação universitária é, na visão dela, bastante generalista. Por isso, só a partir das primeiras vivências profissionais o aluno vai saber por onde quer efetivamente trilhar seu caminho. "Ele precisa achar a área com a qual mais se identifica. A enfermagem, por exemplo, abarca variados perfis profissionais, de qualquer área da saúde", afirma ela.

O equilíbrio entre a especialização e o conhecimento mais abrangente é um dos desafios impostos aos novos profissionais na análise de Luque. "A base da formação é a graduação porque depois não haverá tempo hábil para resgatar os conhecimentos. Aconselho que os estudantes entrem no estágio com a mente aberta, mesmo que numa área que não queiram seguir, mas com plena consciência de que vai usar o aprendizado em outras áreas", defende ele.

Essa foi a postura adotada por Benevides Leonel Ribeiro Netto, aluno do sétimo semestre de Fisioterapia do Centro Universitário São Camilo. Depois de ter passado por um estágio da área de fisioterapia cardiorrespiratória, transferiu-se para a área de neurologia. No entanto, não está se dando bem. "Na cardiorrespiratória era mais fácil qualificar os avanços dos pacientes. Mas é importante passar por outras áreas para ganhar experiência e ficar apto a exercer a profissão", acredita Netto.

Atuação alternativa

Assim, o primeiro passo para o universitário que se encontra numa situação dessas é justamente diagnosticar o que acontece. E para tanto a recomendação de Miriam é procurar os pares profissionais. Ou seja, os professores, o coordenador do curso, o coordenador de estágios e até os colegas. Segundo ela, por meio desse diálogo será possível conhecer experiências diferentes para definir a área de preferência e, se for o caso, conseguir um novo estágio. "Pode até ser que ele esteja no curso errado, mas o ideal é ter contato com as diversas áreas de atuação antes de abandonar", recomenda.

Uma forma de tomar conhecimento das possibilidades que existem na profissão escolhida é participar de eventos científicos, congressos, simpósios, palestras, workshops e atividades de extensão relacionadas à área. "A informação é muito presente hoje em dia e o curso não se faz só na sala de aula. Tem de explorar outros caminhos para buscar identificação com alguma área", declara Miriam. Na opinião dela, ao fazer isso, o aluno consegue ampliar sua visão e então diagnosticar sua situação.

A atitude do estudante depende totalmente do diagnóstico que ele fez da situação, explica Luque. "A grande questão é fazer a auto-avaliação para identificar porque não gosta da área. E aí cabe ao professor ajudar", diz ele. Afinal, caso o problema esteja relacionado a dificuldades com a teoria que embasa a prática, a recomendação do professor é para que o aluno tente conciliar os dois aspectos para enxergar como o dia-a-dia do trabalho depende do que é aprendido em sala de aula. Caso o problema seja o contrário - ou seja, de frustração com a prática em relação à teoria -, uma das saídas possíveis é a dedicação à vida acadêmica. Nesse caso, os programas de iniciação científica podem ajudar o aluno a testar esse caminho.

Durante a auto-avaliação, o aluno pode concluir que o problema é anterior à entrada na faculdade e diz respeito à pressão familiar pela escolha do curso ou a equívocos do próprio aluno. "No caso da saúde, tem muito aluno que queria fazer medicina, não entra e vai fazer fisioterapia. E fisioterapia não é medicina, embora se assemelhe em alguns aspectos", alerta Luque, que destaca haver diferenças entre as práticas das profissões. Algo que deve ser cuidadosamente observado nesse processo. 

Dicas para avaliar porque o estágio não satisfaz

- O primeiro passo é identificar porque está infeliz. Muitas vezes tem a ver com os motivos pelos quais escolheu o curso. É necessário identificar se fez a opção por vontade própria, por não conseguir entrar em outro curso ou por pressão familiar;
- É importante analisar eventuais equívocos nas expectativas pré-vestibular com relação à prática profissional. Se for o caso, uma alternativa é explorar outras áreas de atuação, como a acadêmica;
- A prática profissional pode revelar que o aluno não gosta da profissão, embora tenha interesse pela teoria. Nessa situação, cabe avaliar se vale a pena seguir até o final do curso e procurar um nicho de interesse, como a pesquisa ou áreas correlatas, ou se é o caso de mudar imediatamente;
- Mesmo que o estágio não seja na área de atuação desejada, é preciso haver consciência de que o trabalho será importante de alguma maneira para a formação prática e teórica. Além disso, sempre é possível mudar de estágio;
- O aluno não pode descartar a possibilidade de o problema ser da empresa, que não é boa para trabalhar, ou do estágio, especialmente se for numa área muito específica;
- A gerência da carreira é de responsabilidade do estudante e, por isso, mesmo em situações difíceis, ele tem de absorver os benefícios e administrar os problemas.


Fonte: UNIVERSIA-BRASIL

Desânimo atormenta alunos no último ano da faculdade

Apesar de encarado como normal, problema deve ser trabalhado

Mesmo que tenha cumprido mais de 75% da graduação e já tenha conquistado a aprovação em mais de 24 disciplinas, o estudante de Sistemas da Informação Brenno Passanha, 21 anos, ainda precisa lidar com um sentimento que aparentemente pouco tem a ver com o sucesso alcançado até aqui na faculdade: o desânimo. Enquanto nos três primeiros anos suas faltas não ultrapassaram a média de quatro ausências por ano, na reta final ele esbarrou no limite do permitido pela faculdade e chegou a receber avisos no boletim. Ele admite que agora já não há uma semana em que ele não falte pelo menos um dia. O entusiasmo inicial deu lugar ao desinteresse. Qualquer outra atividade antes supérflua ganha mais importância do que a faculdade.

Segundo Passanha, os motivos da mudança de comportamento estão relacionados tanto ao acúmulo do desgaste dos primeiros anos do Ensino Superior como à ansiedade pelo fim desse ciclo e à densidade da carga horária do último ano. "Se não bastasse os trabalhos e as provas - comuns nos semestres anteriores -, temos de nos dedicar ainda ao TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). Além disso, parece que as matérias mais chatas foram reservadas para o último ano", reclama o estudante de Sistemas de Informação. Ele admite inclusive que já dormiu em sala de aula, deixou de estudar para ficar conversando com os amigos pelos corredores. "Algo que nunca tinha feito antes", garante ele.

Desanimo similar é vivenciado pela estudante de Direito Giuliana Barberis, 22 anos. Ainda que não tenha dormido em sala de aula, relata que já faltou à faculdade para assistir novela e até mesmo para fazer a unha. "A cada ano que passa parece que o cansaço aumenta e interfere no ritmo. Fica cada vez mais difícil conseguir conciliar trabalho e faculdade, até porque as responsabilidades profissionais também crescem com o passar do tempo", diz Giuliana. Ela afirma estar esgotada e não vê a hora de concluir a graduação.

A preocupação da estudante de Direito é muito maior com o trabalho do que com a faculdade. Não é a toa que ela tem levado as aulas muito menos a sério do que no primeiro ano. "As atividades extra-sala são feitas sempre na última hora e com uma dedicação muito inferior à do início da graduação", conta Giuliana, que atribui também ao trabalho de conclusão de curso a responsabilidade pela grande tensão do último ano. "Há grande pressão psicológica em cima desse projeto", enfatiza ela.

Além da crise associada ao excesso de atividades que o TCC desencadeia, há outras preocupações que assolam a cabeça dos estudantes. Para a estudante de administração Ana Carolina do Nascimento Barbosa, 23 anos, a crise do último ano da faculdade está relacionada principalmente as incertezas do futuro pessoal e profissional. "Embora já esteja empregada, a insegurança em relação ao rumo em que as coisas vão seguir nos próximos anos é natural. Será que vou conseguir me manter no emprego? Se faço ou não uma pós-graduação?", declara ela. No caso de Ana Carolina, as dúvidas geram desmotivação e até mesmo medo. "Você dedica quatro anos num curso, mas isso não garante a sua permanência na área", acrescenta ela.

O medo também faz parte dos sentimentos de Giuliana. "O processo de transição de estudante para profissional gera uma insegurança maior. Até porque você será cobrada muito mais pelo mercado de trabalho. Será, no entanto, que estou preparada para atender as novas demandas e exigências?", questiona ela, que, por ter escolhido a área de Direito, terá ainda de enfrentar a prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e garantir a licença para atuar profissionalmente no Brasil.

Como superar o desânimo

O desânimo com os estudos na reta final da faculdade não é exclusividade de Passanha, Ana Carolina e Giuliana. Segundo Maria Virgínia Filomena Cremasco, professora do Departamento de Psicologia da UFPR (Universidade Federal do Paraná), esse estado emocional é natural entre os estudantes do último ano da graduação. "A grande diferença está em como os alunos se posicionam diante de seus conflitos", resume a professora. "Ao mesmo tempo em que o desgaste com a universidade pode ser uma limitação, também pode ser transformado em força para a autossuperação", sugere Maria Virgínia.

Apesar do desânimo ser um sentimento compreensível no último ano, Maria Virgínia alerta para a necessidade de cuidado para não deixar que esse sentimento coloque tudo a perder e multiplique o peso do estágio final da graduação, com uma reprovação, por exemplo. A professora da UFPR lembra que para conseguir o diploma é obrigatório ser aprovado em todas as disciplinas e ter a frequência mínima exigida pelo Ministério da Educação. "A frustração com a reprovação pode ser ainda maior", garante ela, que recomenda aos alunos maior atenção principalmente com as faltas.

Para Agnaldo Néri, professor da Faculdade de Psicologia da PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas), há dois tipos de alunos. Enquanto uns consideram o último ano o fim de um ciclo, outros encaram a etapa como o primeiro ano da carreira profissional. "O segundo perfil tende a suportar melhor esse desanimo, até porque tem um projeto de vida e consegue enxergar melhor as oportunidades que o último ano podem trazer a seu futuro profissional", explica ele. Néri enfatiza a necessidade dos estudantes construírem esse projeto de vida já a partir do terceiro ano.

Na opinião do professor da PUC-Campinas, o desinteresse pela faculdade é mais comum entre aqueles alunos que já têm a vida definida e os que estão completamente perdidos em relação ao futuro. "É preciso enxergar a vida além da data da formatura. Jogue a energia e a motivação para os próximos cinco anos. Planeje o que pretende fazer, seus objetivos pessoais e profissionais e planeje a realização de cursos complementares a sua formação", orienta Néri. Ele afirma que esse planejamento diminui a tensão e a ansiedade. 



Fonte: UNIVERSIA-BRASIL (com adaptações).