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quinta-feira, outubro 14, 2010

Desânimo atormenta alunos no último ano da faculdade

Apesar de encarado como normal, problema deve ser trabalhado

Mesmo que tenha cumprido mais de 75% da graduação e já tenha conquistado a aprovação em mais de 24 disciplinas, o estudante de Sistemas da Informação Brenno Passanha, 21 anos, ainda precisa lidar com um sentimento que aparentemente pouco tem a ver com o sucesso alcançado até aqui na faculdade: o desânimo. Enquanto nos três primeiros anos suas faltas não ultrapassaram a média de quatro ausências por ano, na reta final ele esbarrou no limite do permitido pela faculdade e chegou a receber avisos no boletim. Ele admite que agora já não há uma semana em que ele não falte pelo menos um dia. O entusiasmo inicial deu lugar ao desinteresse. Qualquer outra atividade antes supérflua ganha mais importância do que a faculdade.

Segundo Passanha, os motivos da mudança de comportamento estão relacionados tanto ao acúmulo do desgaste dos primeiros anos do Ensino Superior como à ansiedade pelo fim desse ciclo e à densidade da carga horária do último ano. "Se não bastasse os trabalhos e as provas - comuns nos semestres anteriores -, temos de nos dedicar ainda ao TCC (Trabalho de Conclusão de Curso). Além disso, parece que as matérias mais chatas foram reservadas para o último ano", reclama o estudante de Sistemas de Informação. Ele admite inclusive que já dormiu em sala de aula, deixou de estudar para ficar conversando com os amigos pelos corredores. "Algo que nunca tinha feito antes", garante ele.

Desanimo similar é vivenciado pela estudante de Direito Giuliana Barberis, 22 anos. Ainda que não tenha dormido em sala de aula, relata que já faltou à faculdade para assistir novela e até mesmo para fazer a unha. "A cada ano que passa parece que o cansaço aumenta e interfere no ritmo. Fica cada vez mais difícil conseguir conciliar trabalho e faculdade, até porque as responsabilidades profissionais também crescem com o passar do tempo", diz Giuliana. Ela afirma estar esgotada e não vê a hora de concluir a graduação.

A preocupação da estudante de Direito é muito maior com o trabalho do que com a faculdade. Não é a toa que ela tem levado as aulas muito menos a sério do que no primeiro ano. "As atividades extra-sala são feitas sempre na última hora e com uma dedicação muito inferior à do início da graduação", conta Giuliana, que atribui também ao trabalho de conclusão de curso a responsabilidade pela grande tensão do último ano. "Há grande pressão psicológica em cima desse projeto", enfatiza ela.

Além da crise associada ao excesso de atividades que o TCC desencadeia, há outras preocupações que assolam a cabeça dos estudantes. Para a estudante de administração Ana Carolina do Nascimento Barbosa, 23 anos, a crise do último ano da faculdade está relacionada principalmente as incertezas do futuro pessoal e profissional. "Embora já esteja empregada, a insegurança em relação ao rumo em que as coisas vão seguir nos próximos anos é natural. Será que vou conseguir me manter no emprego? Se faço ou não uma pós-graduação?", declara ela. No caso de Ana Carolina, as dúvidas geram desmotivação e até mesmo medo. "Você dedica quatro anos num curso, mas isso não garante a sua permanência na área", acrescenta ela.

O medo também faz parte dos sentimentos de Giuliana. "O processo de transição de estudante para profissional gera uma insegurança maior. Até porque você será cobrada muito mais pelo mercado de trabalho. Será, no entanto, que estou preparada para atender as novas demandas e exigências?", questiona ela, que, por ter escolhido a área de Direito, terá ainda de enfrentar a prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e garantir a licença para atuar profissionalmente no Brasil.

Como superar o desânimo

O desânimo com os estudos na reta final da faculdade não é exclusividade de Passanha, Ana Carolina e Giuliana. Segundo Maria Virgínia Filomena Cremasco, professora do Departamento de Psicologia da UFPR (Universidade Federal do Paraná), esse estado emocional é natural entre os estudantes do último ano da graduação. "A grande diferença está em como os alunos se posicionam diante de seus conflitos", resume a professora. "Ao mesmo tempo em que o desgaste com a universidade pode ser uma limitação, também pode ser transformado em força para a autossuperação", sugere Maria Virgínia.

Apesar do desânimo ser um sentimento compreensível no último ano, Maria Virgínia alerta para a necessidade de cuidado para não deixar que esse sentimento coloque tudo a perder e multiplique o peso do estágio final da graduação, com uma reprovação, por exemplo. A professora da UFPR lembra que para conseguir o diploma é obrigatório ser aprovado em todas as disciplinas e ter a frequência mínima exigida pelo Ministério da Educação. "A frustração com a reprovação pode ser ainda maior", garante ela, que recomenda aos alunos maior atenção principalmente com as faltas.

Para Agnaldo Néri, professor da Faculdade de Psicologia da PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas), há dois tipos de alunos. Enquanto uns consideram o último ano o fim de um ciclo, outros encaram a etapa como o primeiro ano da carreira profissional. "O segundo perfil tende a suportar melhor esse desanimo, até porque tem um projeto de vida e consegue enxergar melhor as oportunidades que o último ano podem trazer a seu futuro profissional", explica ele. Néri enfatiza a necessidade dos estudantes construírem esse projeto de vida já a partir do terceiro ano.

Na opinião do professor da PUC-Campinas, o desinteresse pela faculdade é mais comum entre aqueles alunos que já têm a vida definida e os que estão completamente perdidos em relação ao futuro. "É preciso enxergar a vida além da data da formatura. Jogue a energia e a motivação para os próximos cinco anos. Planeje o que pretende fazer, seus objetivos pessoais e profissionais e planeje a realização de cursos complementares a sua formação", orienta Néri. Ele afirma que esse planejamento diminui a tensão e a ansiedade. 



Fonte: UNIVERSIA-BRASIL (com adaptações).

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