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quinta-feira, outubro 21, 2010

Saiba como superar longos períodos sem emprego

Tempo é agravante, mas forma de lidar com a situação é reconhecida

O administrador André Luiz de Santi Barbosa de Almeida, 29 anos, é dos 1,7 milhão de brasileiros que, segundo levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), estão desempregados. Para ele, a busca por uma nova oportunidade no mercado de trabalho já dura um ano e seis meses. Embora a esperança se renove cada vez que o telefone toca ou a cada nova entrevista de emprego, os diversos "nãos" recebidos ao longo desse período, a baixa receptividade dos empregadores e a pressão social intensificam o desanimo e o sentimento de fracasso profissional e pessoal. Além de tudo isso, esse tempo todo parado já começa a chamar a atenção excessivamente no currículo de Almeida.

"No começo, o número de entrevistas era bem maior. Hoje, os poucos empregadores que me chamam para uma conversa me questionam o tempo em que estou parado", conta Almeida. O administrador diz que alguns chegam a pensar que o tempo encostado é fruto de sua própria vontade. "Desejo de trabalhar é que não me falta. Falta, no entanto, alguém que me dê uma oportunidade", destaca Almeida, que admite ter arriscado, inclusive, buscar alternativas em vagas inferiores. "Nesses casos, a desculpa pela não contratação, geralmente, é a alta qualificação", declara ele.

Ainda que a postura do mercado de trabalho pareça ser cruel, Simone Dias, professora de Ciências Administrativas da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), explica que os profissionais que ficam muito tempo desempregados não são teoricamente competitivos, nem mesmo facilmente empregáveis. "Em casos de candidatos igualmente capacitados, geralmente são priorizados aqueles que estão mais próximos à realidade do mercado de trabalho", explica Simone. O fator tempo, na opinião dela, já começa a se tornar agravante a partir do terceiro mês. "Portanto, a procura por uma nova oportunidade deve começar no primeiro dia após a saída do antigo emprego. Nada de se dar um mês de férias, tampouco de esperar o vencimento do seguro desemprego", recomenda ela.

Além do preconceito com relação ao tempo parado, há ainda outros fatores que também pesam na avaliação dos recrutadores. É o que garante Sueli Milare, coordenadora da especialização em Desenvolvimento do Potencial nas Organizações da PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica de Campinas) e diretora geral KorumCoaching. "Hoje particularmente a situação econômica nacional e internacional é levada em consideração pelas empresas. Isso porque elas entendem que em momentos de crise as dificuldades de se encontrar uma nova vaga são maiores. Mas quando o mercado está aquecido fica mais difícil justificar esse tempo desempregado", explica Sueli, que acredita que as desvantagens na empregabilidade começam a aparecer a partir do sexto mês parado.

Muito mais do que a avaliação de fatores externos, Sérgio Piza, responsável pela área de recursos humanos da Claro, ressalta o peso da análise do comportamento do profissional durante o desemprego. Segundo ele, a experiência da transição entre empregos pode ser importante e enriquecedora. "Se estruturado com eficiência, contribui para a qualificação pessoal do profissional a partir do aprendizado com as incertezas e com o controle emocional", garante ele, que assegura a valorização desses aspectos na contratação. Ou seja, se o profissional consegue lidar bem com a situação, isso passa a ser visto como uma qualidade a mais.

Estabelecer o equilíbrio emocional, na opinião de Sueli, que também é psicóloga, é um dos maiores desafios para um profissional que há tempos está afastado do mercado de trabalho. Segundo ela, é comum a perda da autoestima, o sentimento de inferioridade e a descrença no próprio potencial. Casos de depressão também são frequentes. Mas, ao invés de alimentar todas essas sensações, a professora da PUC-Campinas aconselha que as transformem em energia para impulsionar o processo de recolocação. "Nesse momento, o apoio e a compreensão da família e dos amigos são essenciais", alerta ela.

Além de orientar que os profissionais continuem levantando cedo, Sueli recomenda a abolição do uso do pijama durante o dia. "A tendência é não ter animo para fazer nada. Por isso, tome banho cedo e saia de casa nem que seja para ir à banca de jornal", sugere ela, que acrescenta a importância da permanência do convívio com outros profissionais. "Coloque os contatos comerciais em dia, continue a frequentar os mesmos ciclos sociais e tente minimizar as mudanças na rotina. Assim, o choque da mudança será menor", afirma a psicóloga.

De acordo com Piza, o grande erro é a falta de estruturação de um cronograma de atividades. "Crie uma agenda produtiva e sadia, com a reserva de horário para leituras, atividades culturais (teatro e cinema), cursos extracurriculares, para acompanhar e-mail e restabelecer a rede de relacionamento. Determine com quantas pessoas falará por dia, quantos currículos enviará e em quantos eventos participará por mês", sugere o recrutador. "Não é porque você não está trabalhando, que não vai trabalhar", enfatiza ele.

Turbine seu currículo

Com o lado emocional estruturado, é hora de investir na capacitação profissional. "Se o candidato não estudar, perde ainda mais a vantagem competitiva e o conhecimento do mercado, além de minimizar ainda mais as possibilidades de reingresso", aponta Simone. A professora da UFPE sugere que os profissionais desempregados usem o tempo disponível a seu favor para aumentar seu poder competitivo. Segundo ela, muitos dos brasileiros que reclamam da falta de oportunidade, são desqualificados.

Para evitar esse tipo de problema, bem como o desperdício de esforço na procura por oportunidades erradas, Piza aconselha a realização de autoanálises. "Não quer dizer que tenha que desistir dos sonhos. Mas sim, que identifique o que realmente quer, quais são as suas competências, o que o mercado exige para que alcance esses patamares e o que é preciso fazer para adequar-se a essas exigências", afirma o diretor da Claro. Segundo ele, muitas personalidades alcançaram suas maiores conquistas após períodos de transições.

Foi a partir desta avaliação que a administradora Adriana de Oliveira Loverbeck, 27 anos, conseguiu superar os 14 meses de desemprego. Ao pedir demissão de seu antigo trabalho, tinha plena convicção de ter todas as competências necessárias para a conquista de uma nova vaga. As primeiras entrevistas, no entanto, mostraram a ela o contrário. "Só o Ensino Superior não era o suficiente. Além da cobrança pelo conhecimento de um segundo idioma, sentia a necessidade de incrementar os meus conhecimentos técnicos em cursos extracurriculares", diz Adriana. E, ao invés, de contestar a atitude dos recrutadores, ela decidiu aplicar o dinheiro da rescisão do antigo contrato em cursos. "Investimento que teve retorno. Consegui um emprego numa empresa do setor de fabricação de produtos para pesca", comemora.

Ainda que nem todo o desempregado tenha dinheiro para investir em cursos, Simone cita a existência de diversas atividades gratuitas. "Há cursos gratuitos oferecidos tanto por universidades públicas, entidades de classe ou organizações não governamentais. Além disso, há diversas opções de simpósio, palestras, congressos e feiras que também contribuem com o desenvolvimento profissional", cita a professora da UFPE.

A tecnologia tem contribuído inclusive para que a atualização seja iniciada dentro da própria casa. "É possível manter-se atualizado com a TV, o rádio, o jornal, a revista e a Internet. Não adianta, no entanto, gastar o seu tempo livre assistindo desenho", aponta Sueli. De acordo com ela, a manutenção não se restringe a atualização. É preciso ainda manter as relações profissionais. Simone partilha com a professora da UFPE e aponta a rede de contatos como a segunda responsável pelo surgimento de oportunidades. "A primeira ainda é o currículo",acredita ela.

Piza sugere que os profissionais não tenham vergonha de recorrer tanto aos antigos amigos como aos colegas mais recentes. "Mesmo aqueles que não estão inseridos nas mesmas áreas que você. Até porque ele pode indicar outros contatos. Mande um e-mail, faça uma ligação ou agende um encontro", diz o recrutador da Claro. "Essa transição é difícil, mas se superada é um bom sinal", enfatiza. 


Fonte: UNIVERSIA-BRASIL (cpm adaptações).

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