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sexta-feira, outubro 15, 2010

Até que ponto estrutura ruim prejudica estudantes?


Embora importante, outros fatores são necessários para boa formação


"Quem faz a faculdade é o aluno". A frase chega a ser um clichê na boca de alguns estudantes. Frequentemente usada por alunos matriculados em instituições menos prestigiadas, a alegação é vista por muitos quase como uma justificativa para o fracasso na tentativa de ingresso numa universidade renomada, que tenha bons professores e além disso, infraestrutura de ponta. Mas até que ponto a boa estrutura pode dar vantagem aos estudantes universitários e de que forma um bom aluno pode ficar para trás se não tiver a sua disposição boas instalações? De fato é somente o aluno quem faz a faculdade ou as instalações fazem toda a diferença no processo de aprendizado?

Para Laeda Machado, coordenadora do curso de pedagogia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), a infraestrutura de aprendizado é um conjunto entre espaço físico e capacidade do professor com seu envolvimento no tripé educacional universitário de ensino, extensão e pesquisa. "O professor deve criar mecanismos que incentivem o aprendizado dos alunos", diz ela. Segundo a coordenadora, além das atividades fora dos horários de aula, é preciso aproveitar da melhor maneira possível a sala de aula, lugar onde alunos e professores passam boa parte de seu tempo. Por esse ponto de vista, Leda afirma que deficiências estruturais podem afetar o rendimento dos alunos e dificultar o trabalho dos professores. "Por exemplo, passamos por uma onda de calor que atrapalha a permanência dentro das salas", explica a coordenadora sobre a dificuldade de lidar com um grupo de alunos das 8h às 12h numa sala sem ar-condicionado.

De acordo com o pró-reitor de ações afirmativas e assistência estudantil da UFBA (Universidade Federal da Bahia) Álamo Pimentel, um dos principais desafios das universidades depois do ingresso dos alunos é mantê-los na instituição. E é aí que a infraestrutura tem papel importante, já que Pimentel destaca a importância das atividades extraclasse. "A universidade deve transcender a sala de aula. É preciso organizar festivais de música, teatro e amostras de cinema, por exemplo", explica ele, que chama atenção para que haja constante comunicação entre alunos, professores e reitoria para manutenção do ambiente em ordem e melhora das possíveis falhas de estrutura. "Público ou privado, o espaço é sempre de todos, por isso é preciso respeitar e manter a reitoria informada sobre o que se deve fazer para melhorar o ambiente", acrescenta Pimentel.

Há educadores que defendem que a infraestrutura é fundamental em determinadas áreas. Helena Côrtes, professora da faculdade de educação e pró-reitora de ensino de graduação da PUC-RS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), usa como exemplo os cursos de Comunicação Social, Química e Engenharia, em que, segundo ela, o aprendizado prático é de extrema importância para os conteúdos procedimentais. "Não é possível aprender a nadar sem entrar numa piscina, por isso esse tipo de laboratório é tão necessário", exemplifica Helena. De acordo com ela, a necessidade de uma boa infraestrutura não termina apenas nos objetos específicos de cada área, ela cerca toda a universidade, desde a entrada até a saída e passa por áreas de lazer, alimentação e até sustentabilidade. É esse conjunto de fatores que Helena acredita serem capazes de potencializar o maior objetivo de uma instituição de ensino, o compartilhamento de conhecimento.

Em sala de aula

Dentro da sala de aula aspectos que podem parecer simples são os que fazem maior diferença na hora do aluno assistir as aulas. "A iluminação deve vir da esquerda, agir em parceria com a luz natural e a lousa possuir anti-reflexo", diz Helena, que explica que dessa maneira, além de consumir menos energia, também mantém o foco do aluno que não terá dificuldade na hora de buscar os pontos apontados pelo professor no quadro. Naquelas salas de aula onde o número de alunos é muito grande, o uso de microfones é outro ponto que facilita a comunicação entre professores e estudantes. Helena também acha importante o uso do ventilador, sejam eles de teto, ou ar-condicionado, além das carteiras ergonômicas. "No calor é imprescindível que haja ventilação na sala e carteiras que não prejudiquem a postura dos alunos", continua a professora.

Nas áreas comuns da universidade a educadora acredita que banheiros limpos, jardins, paisagismo e centros de coleta para resíduo reciclável também agem no lado social do indivíduo. "Sob o ponto de vista didático existe o favorecimento da aprendizagem pelo ambiente que permeia a sala de aula", afirma Helena. Esses aspectos, em parceria de um grupo de docentes capazes, pode parecer o suficiente para o aproveitamento de qualquer curso, mas a professora vai além. "Os professores devem ser capacitados para aproveitar da melhor maneira possível essa infraestrutura, mas isso não é tudo. Eles devem estar sempre centrados no lado humano da relação com os alunos. Estudar seus problemas para ajudar em seu aprendizado", declara ela.

Um exemplo que a professora usa para ilustrar como boas instalações deve ser aliadas a boas práticas são as visitas a bibliotecas. Ainda que sejam bem equipadas e de importância evidente, Helena adverte. "O professor não pode apenas direcionar o aluno à biblioteca, ele deve frequentar o ambiente com sua turma e trocar dicas de leitura para fazer parte do contexto", sugere ela, que destaca também o papel da alimentação e como o fácil acesso a áreas para esse fim podem contribuir para a boa performance estudantil. Segundo ela, a alimentação saudável também deve ser encarada com atenção pelas instituições. "As refeições devem ter o acompanhamento de um nutricionista para que sejam balanceadas, baratas e nutritivas. É uma boa opção para aqueles que se alimentam mal entre as aulas".

Internet

A rede mundial de computadores e a propagação do acesso têm sempre lugar de destaque quando o assunto é estrutura de aprendizado. Há consenso da importância dessa ferramenta no ambiente universitário. Mas em decorrência da facilidade e velocidade com que a informação chega para os estudantes, muitos acabam com a ilusão de que a internet ainda vai substituir o papel do orientador, e mesmo que seja uma ferramenta útil tanto para o aluno quanto para o pesquisador, Helena explica o problema dessa substituição irresponsável. "Vivemos na era da informação, mas ela, por si só, não é sinônimo de conhecimento", alerta. Para que esse tipo de tecnologia seja utilizada da maneira correta, a educadora acredita que é necessário um professor que mostre o melhor caminho para os seus alunos dentro do que é estudado. Isso porque, a perca do foco pode levar os estudantes para longe do aprendizado adequando em meio às muitas opções da rede.

Além da proximidade que deve existir entre professor e aluno na busca pelo conhecimento, Maria Amélia Sabbag Zainko, pró-reitora da UFPR (Universidade Federal do Paraná), acredita que o contato com obras culturais como livros devem vir antes do contato com o mesmo material virtual. "Os alunos precisam frequentar bibliotecas para compreender a diversidade de obras que a humanidade já publicou e o peso cultural que isso gerará para sua vida acadêmica e pessoal", diz ela.

Maria Amélia completa ainda que, independentemente do que o aluno pensa que o aguarda no Ensino Superior, o conhecimento está em constante mudança. Na sala de aula ele vai apenas receber mais uma dose disso, mas ele não deve pensar que sairá da universidade transbordando saber, ainda que a instituição seja privilegiada em termos estruturais. "A universidade não transfere um conhecimento acabado, esse é um processo que vai e deve acontecer por toda a vida", declara Maria Amélia. 


Fonte: UNIVERSIA-BRASIL (com adaptações).

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