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quinta-feira, agosto 05, 2010

Novas tecnologias ajudam pesquisadores na restauração e na conservação de bens históricos

As novas tecnologias e o desenvolvimento científico têm sido as principais ferramentas para preservação e recuperação de monumentos históricos de valor incalculável. Professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretora do Centro de Conservação de Restauração de Bens Culturais da Escola de Belas Artes (Cecor), Bethânia Reis Veloso lembra que este é um trabalho que exige dos especialistas conhecimento e senso crítico para analisar a situação de cada obra, fachada ou estrutura. Muitas delas, ao relento, ficam expostas à ação do sol, do vento, da chuva, da maresia, sem contar com intervenções inadequadas, o que provoca danos. O diagnóstico dos problemas pode ser oferecido com eficiência, por meio de técnicas cada vez mais avançadas, possibilitadas pela ciência.

No Brasil, ela observa, a maior parte dessas obras são produzidas com ferro, pedra, madeira, cimento e vidro. Estudos detalhados indicam formas de paralisação de degradação biológica, química, eliminação de insetos, para início da restauração física dos objetos ou estruturas arquitetônicas. “Parece simples, mas não é. As avaliações precisam ser feitas a partir da proposta da obra, do conceito desenvolvido pelo artista. Se a restauração não levar em conta este elemento, o trabalho não se justifica.”

Para a busca dessas informações — técnicas e subjetivas —, equipamentos de alta precisão são utilizados, afirma a professora Eliana Ambrósio, especialista em restauração e conservação. As lâmpadas de vapor de sódio, com luz amarelada, realçam detalhes dos traços, no caso de pinturas. Com os raios X, é possível conhecer internamente as condições da obra, raios ultravioletas revelam intervenções e análises químicas, realizadas em laboratório, confirmam tipos de pigmentos, bases de preparação do objeto, ataques de fungos e de bactérias, entre outros elementos essenciais para a recuperação.


“As pesquisas para descobertas desses recursos estão muito avançadas no país, muito em razão do crescente interesse dos profissionais, que se dispõem a fazer cursos no exterior, pelo incentivo de fundações como a Vitae, que promovem acessos a simpósios, e pelos programas que permitem a troca de experiências entre os técnicos. Outro ponto importante foi a criação de cursos de graduação específicos”, diz a especialista, que chama atenção para a necessidade de qualificação constante da mão de obra, além da produção de conhecimentos a partir da realidade local. “Isso impulsiona inclusive a indústria, que fica mais atenta à descoberta de produtos.” Segundo Eliana Ambrósio, a abertura das universidades para os cursos de restauração e conservação de monumentos é uma tendência mundial nos últimos 20 anos, e que recentemente também influencia o Brasil.


Professora que ministra cursos de materiais e técnicas e restauração de papel, ela observa que o diagnóstico da degradação é o primeiro passo para a recuperação eficiente, que respeita o conteúdo e não apenas a forma do monumento. “Com todas as tecnologias e os produtos disponíveis na indústria, hoje é possível realizar teste, observar como se dá o envelhecimento das obras, como o novo material vai se comportar com o material antigo. Existem resinas acrílicas, tintas cada vez mais sofisticadas”, diz.


Eliana Ambrósio observa ainda que, apesar de todos os recursos disponíveis, essa é uma área que exige sensibilidade do poder público, da iniciativa privada e da população, de modo geral, tanto para a facilitação do acesso aos recursos que devem ser destinados ao cuidado de patrimônios culturais como para a criação de políticas de preservação, que mostrem aos cidadãos a maneira mais adequada para lidar com verdadeiras obras de arte que fazem parte das cidades e estão no cotidiano das pessoas.


A diretora do Cecor, Bethânia Veloso, defende que o aumento dos recursos científicos precisa ser acompanhado do desenvolvimento metodológico. “Num país tropical, é preciso analisar incidência de luz, localização da obra, efeitos da poluição, temperatura e grau de exposição”, explica. Ela lembra que o estudo das degradações deve considerar motivações internas e externas, e que qualquer projeto de restauração tem que avaliar como o bem cultural está integrado à realidade social, a sua importância para a população e relevância histórica. “Esses cuidados são fundamentais, com associação das possibilidades científicas com os interesses sociais.”


Adriano Ramos, um dos fundadores do Grupo Oficina de Restauro, com Maria Regina Ramas e Rosângela Costa, presta serviços na área de preservação e restauração de bens móveis e arte aplicada, além de treinamento e capacitação de mão de obra especializada, em Belo Horizonte. A empresa, que atua diretamente com a preservação do patrimônio cultural desde 1987, compara restauradores aos médicos. “Partimos do diagnóstico para propor o tratamento das obras. Só assim podemos detectar com eficácia os agentes deterioradores”, diz. A colaboração da ciência, nesse caso, ele reforça, tem papel determinante. “Os materiais estão se modificado de maneira muito veloz. Em alguns casos, encontramos produtos químicos e materiais fantásticos, além de pigmentos, tintas prontas, colas e removedores inimagináveis há poucos anos. Com a globalização, o acesso a estas informações é cada vez maior.”


Algumas técnicas


» Lâmpada de vapor de sódio: luz amarelada, que realça detalhes de desenho, no caso de pintura, além de estruturas e linhas.


» Raios X: permitem confirmar o tipo de material utilizado no interior da obra, se há ataque de cupim, pintura anterior à aparente, se o artista trabalhou em camadas.


» Ultravioleta: luz azuladat que, em sala escura, revela por meio de fluorescências outras intervenções de restauração e problemas de degradação.


» Análises químicas: reagentes sofisticados revelam tipos de bases de preparação e pigmentos, e existência de fungos, entre outros elementos.
Fonte: Correio Braziliense

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